segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Estado de S. Paulo
sexta-feira, 3 de abril de 2009, 15:54


Morre Crodowaldo Pavan, pioneiro da genética no Brasil
Pavan tinha 89 anos; foi professor da USP e da Unicamp,
e pesquisou os efeitos da radiação nos genes
Herton Escobar e Alexandre Gonçalves, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Morreu nesta sexta-feira, 2, aos 89 anos, o geneticista Crodowaldo Pavan, uma das figuras mais importantes da ciência brasileira. Nascido em Campinas e formado pela Universidade de São Paulo (USP), ele foi um dos fundadores da genética no País, formou dezenas de pesquisadores no Brasil e nos Estados Unidos, publicou trabalhos de repercussão internacional e liderou algumas das instituições científicas mais importantes do País.

“Ele era um grande líder, daqueles que não se encontra mais hoje em dia”, disse a geneticista Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP, que foi aluna de Pavan na graduação. “A história do Pavan se confunde com a história da genética no Brasil; é impossível separar uma coisa da outra”, disse outro notório ex-aluno, o geneticista Francisco Salzano, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O professor imortal, que nunca fugia de uma discussão - ao contrário, fazia questão de iniciar muitas delas -, morreu no início da tarde de ontem, no Hospital Universitário da USP. Ele estava internado desde o dia 26, quando se sentiu mal. Na madrugada do dia 27, sofreu um enfarte e seu quadro clínico deteriorou-se, até uma falência de órgãos. Ele tinha câncer, mas não ficou claro se isso teve influência na morte.

Pavan foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) entre 1981 e 1986, quando, entre outras coisas, liderou uma campanha para incluir a autonomia universitária e o apoio à ciência e à tecnologia no texto da Constituição de 1988. Também foi uma voz importante na criação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em 1985. “Ele foi uma liderança crucial em momentos importantíssimos da ciência no Brasil”, disse ao Estado o atual presidente da SBPC, Marco Antonio Raupp.

Entre 1981 e 1984, Pavan foi diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Entre 1986 e 1990, presidiu o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão do MCT que financia a maior parte das pesquisas no País. Entrou dizendo que ia multiplicar o orçamento e o número de bolsas, que passou de 10 mil para quase 50 mil. “O Pavan era um figura notável, que marcava presença em todos os lugares por que passava”, disse o chefe de gabinete do CNPq, Felizardo Penalva, também ex-aluno dele na pós-graduação do Departamento de Genética da USP - que, aliás, foi criado por Pavan.

Para Mara Hutz, presidente da Sociedade Brasileira de Genética (SBG) e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Pavan colocou o Brasil no mapa da genética no mundo. “Sempre foi uma pessoa muito participativa que viveu intensamente a política científica brasileira”, aponta Mara.
Na década de 40, Pavan pesquisou ao lado do renomado biólogo Theodore Dobzhansky, na Universidade Columbia. Nas décadas de 60 e 70, foi pesquisador da divisão de biologia do Oak Ridge National Laboratory e virou professor vitalício de genética da Universidade do Texas. “Ele poderia ter ficado nos EUA, mas preferiu voltar para ajudar no desenvolvimento do Brasil”, disse Penalva.

Carlos Menck, vice-presidente da SBG e livre-docente do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, assistiu aulas de Pavan durante a graduação na década de 70. “Eram altamente estimulantes. Queria que as pessoas se dedicassem à ciência por gosto.” No ano passado, Menck, Pavan e outros professores participaram de uma conversa com alunos sobre as perspectivas da biologia. “Pavan falou durante uma hora e meia”, conta Menck. “E dizia com alegria: ‘Tive o privilégio de receber um salário para me divertir’.”

CROMOSSOMOS

A principal contribuição científica de Pavan foi baseada no estudo das larvas de uma mosca chamada Rhynchosciara angelae. Suas pesquisas revelaram um processo chamado amplificação gênica de cromossomos politênicos (gigantes), pelo qual partes dos cromossosmos “inflam” por causa da duplicação de trechos de DNA. Sua especialidade era genética de populações e celular.

Tão marcante quanto a produção científica era a personalidade forte de Pavan. Para o colega e ex-aluno Salzano, ela poderia ser resumida em três palavras: simplicidade, espontaneidade e veemência. As duas últimas referem-se à maneira como Pavan sempre se fazia ouvir em todos os eventos de que participava. “Jamais estive em uma conferência com o Pavan que ele não pedisse a palavra ao microfone”, disse o médico Eduardo Krieger, ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências.

O geneticista Sergio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, lembra-se bem das intervenções de Pavan, que criticava abertamente os projetos de sequenciamento genômico no Brasil. “Esse era o Pavan, nunca de meias palavras. Mesmo quando estava errado, ele era uma presença sempre estimulante.”

Herton Escobar escreveu no Estadão:


O Estado de S.Paulo
Sábado, 04 de Abril de 2009


Morre Crodowaldo Pavan, um pioneiro da genética no Brasil
Biólogo liderou importantes instituições científicas e formou gerações de pesquisadores

Herton Escobar

Morreu ontem, aos 89 anos, o geneticista Crodowaldo Pavan, uma das figuras mais importantes da ciência brasileira. Nascido em Campinas e formado pela Universidade de São Paulo (USP), ele foi um dos fundadores da genética no País, formou dezenas de pesquisadores no Brasil e nos Estados Unidos, publicou trabalhos de repercussão internacional e liderou algumas das instituições científicas mais importantes do País."Ele era um grande líder, daqueles que não se encontra mais hoje em dia", disse a geneticista Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP, que foi aluna de Pavan na graduação. "A história do Pavan se confunde com a história da genética no Brasil; é impossível separar uma coisa da outra", disse outro notório ex-aluno, o geneticista Francisco Salzano, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.O professor imortal, que nunca fugia de uma discussão - ao contrário, fazia questão de iniciar muitas delas -, morreu no início da tarde de ontem, no Hospital Universitário da USP. Ele estava internado desde o dia 26, quando se sentiu mal. Na madrugada do dia 27, sofreu um enfarte e seu quadro clínico deteriorou-se, até uma falência de órgãos. Ele tinha câncer, mas não ficou claro se isso teve influência na morte.Pavan foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) entre 1981 e 1986, quando, entre outras coisas, liderou uma campanha para incluir a autonomia universitária e o apoio à ciência e à tecnologia no texto da Constituição de 1988. Também foi uma voz importante na criação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em 1985. "Ele foi uma liderança crucial em momentos importantíssimos da ciência no Brasil", disse ao Estado o atual presidente da SBPC, Marco Antonio Raupp.Entre 1981 e 1984, Pavan foi diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Entre 1986 e 1990, presidiu o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão do MCT que financia a maior parte das pesquisas no País. Entrou dizendo que ia multiplicar o orçamento e o número de bolsas, que passou de 10 mil para quase 50 mil. "O Pavan era um figura notável, que marcava presença em todos os lugares por que passava", disse o chefe de gabinete do CNPq, Felizardo Penalva, também ex-aluno dele na pós-graduação do Departamento de Genética da USP - que, aliás, foi criado por Pavan.Na década de 40, Pavan pesquisou ao lado do renomado biólogo Theodore Dobzhansky, na Universidade Columbia. Nas décadas de 60 e 70, foi pesquisador da divisão de biologia do Oak Ridge National Laboratory e virou professor vitalício de genética da Universidade do Texas. "Ele poderia ter ficado nos EUA, mas preferiu voltar para ajudar no desenvolvimento do Brasil", disse Penalva.CROMOSSOMOSA principal contribuição científica de Pavan foi baseada no estudo das larvas de uma mosca chamada Rhynchosciara angelae. Suas pesquisas revelaram um processo chamado amplificação gênica de cromossomos politênicos (gigantes), pelo qual partes dos cromossosmos "inflam" por causa da duplicação de trechos de DNA. Sua especialidade era genética de populações e celular.Tão marcante quanto a produção científica era a personalidade forte de Pavan. Para o colega e ex-aluno Salzano, ela poderia ser resumida em três palavras: simplicidade, espontaneidade e veemência. As duas últimas referem-se à maneira como Pavan sempre se fazia ouvir em todos os eventos de que participava. "Jamais estive em uma conferência com o Pavan que ele não pedisse a palavra ao microfone", disse o médico Eduardo Krieger, ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências.O geneticista Sergio Pena, da Universidade Federal de Minas Gerais, lembra-se bem das intervenções de Pavan, que criticava abertamente os projetos de sequenciamento genômico no Brasil. "Esse era o Pavan, nunca de meias palavras. Mesmo quando estava errado, ele era uma presença sempre estimulante."

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Última entrevista para um órgão de imprensa de Pavan

Foto Marcos Santos em 20/02/2009

Abaixo duas matérias publicadas pelo usponline em que o Prof. Pavan, junto com Glória Kreinz, como era o costume dele ofereceu-se à entrevista prazeirosamente como era de seu feitio

Núcleo José Reis valoriza a divulgação da ciência e a comunicação entre áreas

Núcleo José Reis valoriza a divulgação da ciência e a comunicação entre áreas

José Reis: quando a ciência encontra o jornalismo

José Reis: quando a ciência encontra o jornalismo

Texto da matéria do Jornal Nacional 03/04/2009

http://jornalnacional.globo.com/Telejornais/JN/0,,MUL1072852-10406,00-MORRE+EM+SAO+PAULO+O+BIOLOGO+CRODOWALDO+PAVAN.html

Histórias de Pavan



Santo de casa faz milagre


Ou melhor, alquimista de casa faz ciência e não pára. Crodowaldo Pavan é um desses personagens que o universo da cultura de um país jamais deve se esquecer de sua presença/existência. Bem próximo de comemorar seus 88 anos (1º de dezembro) o cientista Pavan se mantém firme com o propósito de continuar seu projeto de vida. Costuma afirmar que sente prazer no que faz. Ou seja, viver parte de seu tempo dentro do laboratório buscando o sentido da vida. Tem uma metodologia fenomenológica de trabalho. O que busca tem consistência é empírico por natureza. Ou é, ou não é. Não é uma questão de fé a sua pesquisa aprendida com um dos nomes que revigoraram a teoria do evolucionismo, Theodor Dobzhasnky, é acima de tudo experimentada e confirmada.O cientista Pavan é muito inquieto, não basta o laboratório é necessário falar sobre a ciência que ele pratica. Estimular o próximo ou a quem der ouvidos à curiosidades científicas. É o seu lado nato de divulgador científico. Na Cátedra UNESCO e Núcleo José Reis de Divulgação Científica da ECA/USP, junto com Glória Kreinz são capazes de sempre formular alguma novidade para a Divulgação Científica. Como falam e debatem com muita paixão sempre conseguem uma platéia expontânea para ouvi-los.A proximidade de Pavan com a divulgação científica vem de longa data. De fato trata-se da necessidade de se comunicar. Por ocasião do período de estadia de Dobzhansky pelo Brasil, o cientista russo, no ano de 1943, sai em excursão pelo país para conhecer nossa biodiversidade, acompanhado por Pavan.Dobzhansky como diz Pavan: “ficava tão exultante com o que via, achava que estava caminhando pelos Jardins do Éden e não parava de falar. Explicando o significado biológico e evolutivo do material que formava esse meio ambiente”. Falava tanto que Pavan se tornava insuficiente como ouvinte. Nesse momento falava para o primeiro matuto que ia encontrando. Essas excursões na maior parte do tempo foram feitas em lombo de cavalos. Pavan e Dobzhansky eram exímios cavalgadores e tinham adoração por bons cavalos. Quando em uma de suas viagens para o Instituto Agronômico do Norte, em Belém do Pará, a filha do diretor, o Dr. Felizberto Camargo sabendo da paixão que Dobzhansky tinha por cavalos ofereceu a cada um dos viajantes um cavalo para facilitar as excursões no campo.Num determinado dia ela entrega os dois cavalos e deixa-os no quintal da casa em que os dois dormiam. Na madrugada do dia seguinte Pavan acorda ouvindo uma conversa em língua que não entendia, levanta e olha na janela e vê Dobzhanky agradando de forma muito sentimental o cavalo que escolhe dentre os dois, conversando baixinho e carinhosamente na sua língua natal: em russo. Possivelmente falava de seu encanto pelas maravilhas que ele via ali naquela selva imensa que o cercava e que por acaso era uma madrugada de luar na imensa mata amazônica.


Outubro 2007

Morre Crodowaldo Pavan



Morre professor Crodowaldo Pavan
03/04/2009


O professor da USP Crodowaldo Pavan morreu às 12h20 desta sexta-feira (3), no Hospital Universitário (São Paulo), devido a insuficiência múltipla de órgãos e sistemas. O docente, que tinha 89 anos de idade, estava internado na UTI do Hospital desde o último dia 26 de março, quando sofreu um infarto.

O velório de Crodowaldo Pavan acontece a partir das 18h30, no Anfiteatro Acadêmico do Instituto de Biociências (IB) da USP (Rua do Matão, Trav. 14, 321, Cidade Universitária, São Paulo). O enterro está previsto para sábado (4), às 14 horas, no Cemitério Getsêmani (Praça da Ressureição 1, Morumbi, São Paulo).