sexta-feira, 3 de abril de 2009

Histórias de Pavan



Santo de casa faz milagre


Ou melhor, alquimista de casa faz ciência e não pára. Crodowaldo Pavan é um desses personagens que o universo da cultura de um país jamais deve se esquecer de sua presença/existência. Bem próximo de comemorar seus 88 anos (1º de dezembro) o cientista Pavan se mantém firme com o propósito de continuar seu projeto de vida. Costuma afirmar que sente prazer no que faz. Ou seja, viver parte de seu tempo dentro do laboratório buscando o sentido da vida. Tem uma metodologia fenomenológica de trabalho. O que busca tem consistência é empírico por natureza. Ou é, ou não é. Não é uma questão de fé a sua pesquisa aprendida com um dos nomes que revigoraram a teoria do evolucionismo, Theodor Dobzhasnky, é acima de tudo experimentada e confirmada.O cientista Pavan é muito inquieto, não basta o laboratório é necessário falar sobre a ciência que ele pratica. Estimular o próximo ou a quem der ouvidos à curiosidades científicas. É o seu lado nato de divulgador científico. Na Cátedra UNESCO e Núcleo José Reis de Divulgação Científica da ECA/USP, junto com Glória Kreinz são capazes de sempre formular alguma novidade para a Divulgação Científica. Como falam e debatem com muita paixão sempre conseguem uma platéia expontânea para ouvi-los.A proximidade de Pavan com a divulgação científica vem de longa data. De fato trata-se da necessidade de se comunicar. Por ocasião do período de estadia de Dobzhansky pelo Brasil, o cientista russo, no ano de 1943, sai em excursão pelo país para conhecer nossa biodiversidade, acompanhado por Pavan.Dobzhansky como diz Pavan: “ficava tão exultante com o que via, achava que estava caminhando pelos Jardins do Éden e não parava de falar. Explicando o significado biológico e evolutivo do material que formava esse meio ambiente”. Falava tanto que Pavan se tornava insuficiente como ouvinte. Nesse momento falava para o primeiro matuto que ia encontrando. Essas excursões na maior parte do tempo foram feitas em lombo de cavalos. Pavan e Dobzhansky eram exímios cavalgadores e tinham adoração por bons cavalos. Quando em uma de suas viagens para o Instituto Agronômico do Norte, em Belém do Pará, a filha do diretor, o Dr. Felizberto Camargo sabendo da paixão que Dobzhansky tinha por cavalos ofereceu a cada um dos viajantes um cavalo para facilitar as excursões no campo.Num determinado dia ela entrega os dois cavalos e deixa-os no quintal da casa em que os dois dormiam. Na madrugada do dia seguinte Pavan acorda ouvindo uma conversa em língua que não entendia, levanta e olha na janela e vê Dobzhanky agradando de forma muito sentimental o cavalo que escolhe dentre os dois, conversando baixinho e carinhosamente na sua língua natal: em russo. Possivelmente falava de seu encanto pelas maravilhas que ele via ali naquela selva imensa que o cercava e que por acaso era uma madrugada de luar na imensa mata amazônica.


Outubro 2007

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